A multiplicidade avaliativa: algumas tendências em vestibulares pelo Brasil

Texto por:  Úrsula Antunes

A palavra pluralidade poderia definir o Brasil sem dever em nada uma descrição mais aprofundada, pois destaca com clareza o aspecto mais visível do país. Podemos pensar na pluralidade de clima, de paisagens, de sotaques, mas vemos também que essa colcha de retalhos diz respeito a aspectos culturais, os quais afetam diretamente na educação e nas avaliações de ensino ou concursos públicos.

Em um apanhado geral dos vestibulares para universidades públicas, cuja obrigatoriedade na leitura de obras específicas existe, podemos perceber tendências variadas das bancas e comissões julgadoras no que tange ao padrão e à postura da unidade de ensino que as escolhe.

Diferente do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) que, em teoria, apresenta uma propensão à diversidade, sem privilegiar realidades regionais, justo pelo fato de se tratar de uma prova universalizante no contexto nacional, vestibulares como os da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), selecionam escritores locais como leitura necessária para os seus respectivos concursos. Mesmo a Universidade Federal de Campinas (Unicamp), em certo aspecto, apesar do elemento vanguardista, privilegia uma produção cultural local, já que os Racionais MCs são um conhecido grupo de Rap paulistano, cujas letras apresentam de forma crua a realidade de São Paulo, mas que, em muitos aspectos, podem ser vistas como um reflexo da violência urbana de várias grandes cidades brasileiras.

Ainda pensando na questão da vanguarda, podemos citar a Universidade de São Paulo (USP), que elegeu uma obra do autor angolano Pepetela de aspecto testemunhal e histórico-social, mostrando através dessa escolha uma tendência à interdisciplinaridade e à valorização do desenvolvimento do senso crítico. O pendor interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande de Sul (UFRGS) é visto pela escolha multimídia das obras a serem visitadas. Além de livros do autor angolano radicado em Portugal Valter Hugo Mãe, temos a autora Adélia Prado e até mesmo um álbum fonográfico: o disco Elis & Tom.

No Rio de janeiro, podemos fazer menção ao exame da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), que mescla referências de autores em Língua Portuguesa de contextos variados. As obras escolhidas passam pelo autor moçambicano Mia Couto, Chico Buarque, com “Gota d’água” e Marina Colasanti. Mesmo com aspecto marcadamente contemporâneo, o exame da Uerj seleciona também “Vidas Secas”, clássico regionalista de Graciliano Ramos, que ainda hoje discute temas relevantes.