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Verbos: quando menos é mais

Quem pensa que escrever é fácil muda de ideia assim que experimenta “encarar” a folha em branco. Colocar as ideias no papel não é nada fácil, não importa o objetivo. Escrever um e-mail de três linhas pode ser a tarefa mais difícil de todas. Entre as razões para essa dificuldade, a complexidade de uma atitude supostamente simples – articular os próprios pensamentos – sem dúvida é a mais recorrente entre elas.
Escrever é diferente de falar. Na fala, podemos hesitar, repetir, alternar, corrigir, deixar palavras e frases incompletas, “eu tinha um exem…pensa, por exemplo, numa fras… melhor, numa matéria de jorn…revista”. Já a escrita é mais rígida e menos complacente. E [teoricamente] mais fixa, menos efêmera que a fala. Mas eis aí a curva sinuosa. Escrever como se fala ou colocar no papel os próprios pensamentos sem uma organização mínima leva os autores e autoras a produzirem textos cheios de exageros e prolixidade, e isso se vê em muitos aspectos de um texto. Falaremos hoje sobre os usos dos verbos. Observe as frases a seguir.
Frases mal escritas, com verbos em excesso
Por que usar dois ou mais verbos se um apenas dá conta do sentido? Vejamos o que diz William Zinsser, na obra “Para escrever bem” (2017, p. 19-20)*:


[…]o segredo da boa escrita é despir cada frase até deixá-la apenas com seus componentes essenciais. Toda palavra que não tem uma função, toda palavra longa que poderia ser substituída por uma palavra curta, todo advérbio que contenha o mesmo significado que já está contido no verbo, toda construção em voz passiva que deixe o leitor inseguro a respeito de quem está fazendo o quê – todos esses são elementos adulterantes que enfraquecem uma frase.

como-escrever-bem-zinsser

Capa do livro Como escrever bem, da editora Fósforo

Se fizermos o exercício de “aparar” as arestas nas frases citadas, elas ficariam assim:
Frases bem escritas, sem excesso de verbos
Bem melhor, não?
Dica extra:  Zinsser recomenda escolher sempre a voz ativa dos verbos. “A carteira foi encontrada pela vizinha”. “A vizinha encontrou a carteira”. O verbo na voz ativa torna a frase clara, objetiva, “chama” a atenção do leitor para o que vem adiante e permite a visualização concreta de uma ação, estabelecendo uma cumplicidade direta entre autor e interlocutor. A frase na voz passiva é mais longa, menos precisa e chama menos a atenção do leitor, confere menos autoridade e propriedade ao que se fala.
Mas atenção, [grifo meu] há uma questão discursiva nessas duas frases: a ênfase deve estar na “carteira” ou na “vizinha”? A primeira frase destaca a carteira, e a segunda, a vizinha, sendo assim, obviamente o efeito de sentido muda. Portanto, essa ordem no sujeito da frase pode não ser fortuita.
Voltaremos  a falar mais a respeito de verbos e também de questões discursivas em breve, aqui no blog. Mas continuamos tratando de escrita no clube de leitura da escola e também na  Oficina de texto, ambos começam em maio.
*A página citada neste artigo é do livro Para escrever bem, de Zinsser, publicado pela editora Três Estrelas (2017). A imagem da capa do livro disponibilizada aqui é da mesma obra, mas numa versão nova, relançada pela editora Fósforo (2021).

Amanda Moura

Formada em Letras – Tradução e Interpretação (Português e Inglês) pela Unibero. Mestra em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP. Traduz, prepara e revisa desde 2012. Em 2018, fundou a Amanda Moura Editorial, escola que oferece cursos para profissionais do texto e do livro.

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